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Conceito de Desenvolvimento

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BrunoKatharsis
(@brunokatharsis)
Membro Admin
Entrou: 3 meses atrás
Posts: 9
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Para a Teoria Histórico-Cultural (e para muitas das teorias materialistas dialéticas em geral), a ideia de "desenvolvimento" ocupa um lugar de bastante importância. Mas em algum momento, algum autor define o que é desenvolvimento? Quais são as determinações do desenvolvimento? É necessariamente um movimento ascendente? De acúmulo positivo? 

Quais são as formas de conceituação e determinação do que é desenvolvimento? Pergunto porque em diferentes esferas (clínica, saúde, educação, etc.), a noção de desenvolvimento está sempre presente, embora quase nunca esclarecida.

Vale tanto de autores da psicologia, mas também da filosofia e de outras ciências que de alguma forma trabalham com essa noção. 

 


   
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Paloma Lisboa
(@dialeticapsi)
New Member
Entrou: 1 mês atrás
Posts: 1
 

Quando falo em desenvolvimento, uso muito a analogia da espiral da qual estamos acostumados na PHC: ele não é linear, mas dá voltas em si mesmo, em níveis diferentes. O que me faz pensar se o desenvolvimento, assim como a questão que você pontuou, é sempre de acúmulo positivo. Estudando neuropsicologia luriana (através dos escritos da Janna Glozman), me deparei com alguns conceitos como “desenvolvimento atrasado, desviado, desarmônico”, o que me deixa com uma questão: até onde podemos rotular o que é desenvolvimento sem levar em conta as problemáticas da discussão do que é normalidade?

Ao mesmo tempo, tirando os vários tipos de desenvolvimento, pelo que li dos soviéticos na psicologia, o desenvolvimento nos leva à aquisição de habilidades, sendo elas “positivas” ou não para nosso comportamento/saúde/vida. Envolve a integração das funções, que são “treinadas, usadas, fortalecidas” ao longo da vida, a partir da mediação com o outro e da possibilidade que neuroplasticidade nos dá. Mesmo assim, o que regula o que é um desenvolvimento saudável /ideal ou não, é o tipo de sociedade no qual estamos inseridos. Assim, o desenvolvimento, hoje, é deturpado, no ponto de vista dos soviéticos: a gente tenta pular etapas, desenvolver crianças ao máximo, nos desenvolver ao máximo, buscando o máximo potencial… mas pra quê? Qual a contribuição desse tipo de desenvolvimento para o bem-estar social? É um desenvolvimento alienado, não-integrado, fragmentado.

Não sei se ajudei em algo concretamente, porque tenho mais questionamentos do que respostas, então vou ficar de olho nesse tópico.


   
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IcaroBP
(@icarobp)
New Member
Entrou: 4 semanas atrás
Posts: 2
 

Em diversos momentos no "Sete Aulas de L. S. Vigotski sobre os Fundamentos da Pedologia" ele indica entender o desenvolvimento como um processo de transformação, metamorfose e etc. A coisa é uma coisa no momento 1 e outra coisa no momento 2. Suas críticas a perspectivas exclusivamente externalistas ou internalistas (como o preformismo, que ele cita), tem a ver com a negação dessa transformação, que ele cita como negação do próprio desenvolvimento.

Não acho que simplesmente a transformação seria o suficiente para conceituar "o que é desenvolvimento". Mas creio que, nessa linha, a gente precise pontuar que se trata do desenvolvimento do ser humano em seu ciclo de vida (abreviar pra desenvolvimento humano, como fazemos, é ok). A gente quer saber as transformações que ocorrem entre uma pessoa desde a fase de recém-nascida até a fase idosa. 

Outra coisa é que concordo com Vigotski no sentido de que essa transformação não seria por acúmulos positivos. A gente perde características e habilidades também. Para uma característica crescer, outra atrofia. Daí temos um movimento de evolução e involução ao mesmo tempo. 

Acrescentando mais um ponto na discussão kkkk compreender como se dá essa transformação exige que se pense de forma dialética. É como aquele paradoxo do navio de Teseu, que a cada parada tem algumas tábuas substituídas. Se todas as tábuas forem substituídas em algum momento, ainda estaremos falando do mesmo navio? Não dá para aplicar simplesmente uma ideia de identidade estática A=A no desenvolvimento humano. Dá para nos identificar dentro do processo do desenvolvimento (daí mais uma contribuição para uma definição: desenvolvimento é um processo), eu sou o mesmo Ícaro que era há 26 anos. Só que agora sou um homem adulto, não mais um bebê. Minha identidade está abarcando todo o processo, e não um momento. Por isso também vou concordar com Vigotski quando diz que um bebê não é um adulto pequeno, é um ser diferente — mesmo que nós identifiquemos o bebê e o adulto que ele se tornará como a mesma pessoa.


   
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IcaroBP
(@icarobp)
New Member
Entrou: 4 semanas atrás
Posts: 2
 

Penso que vocês concordarão comigo se eu disser que o aspecto mais importante que faz com que o desenvolvimento seja desenvolvimento, que lhe atribui uma qualidade sem a qual não pode ser chamado de desenvolvimento, é o surgimento do novo. Se, diante de nós, temos um processo no decorrer do qual não surge nenhuma nova qualidade, nenhuma nova particularidade, nenhuma nova formação, então, é claro, não podemos falar em desenvolvimento no sentido próprio dessa
palavra. (VIGOTSKI, Sete Aulas de L. S. Vigotski sobre os Fundamentos da Pedologia, 2017, p. 33)


   
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BrunoKatharsis
(@brunokatharsis)
Membro Admin
Entrou: 3 meses atrás
Posts: 9
Topic starter  

Obrigado pelos apontamentos, Paloma e Ícaro.

Eu tenho a tendência a concordar com a ideia de que desenvolvimento está relacionado com o surgimento do novo. Agora, não necessariamente esse novo será algo "positivo" para o sujeito, nem virá sem consequências para outras características do todo (a perda ou atrofia de alguma habilidade, por exemplo).

A coisa fica mais complexa quando penso nos processos de adoecimento. Porque costumamos emparelhar "desenvolvimento-saúde", "desagregação-patologia", como se desenvolvimento levasse a alguma conquista, algum ganho, e a desagregação levasse a alguma perda, deficiência, etc. Essa dicotomia é bastante presente mesmo entre nós (e sinceramente acho difícil romper com essa lógica tão bem instituída no nosso campo).

Nesse sentido, acho interessante os cadernos clínicos do Vigotski, em que ele se debate justamente com isso. É uma desagregação ou um novo desenvolvimento? É as duas coisas ao mesmo tempo?

Ao mesmo tempo sinto que parar nesse ponto pode levar a um relativismo e dificulta mesmo uma intervenção consciente e direcionada. A questão não seria então "a psicologia deve estimular/produzir um desenvolvimento", mas "qual desenvolvimento a psicologia deve produzir", não só uma transformação abstrata, mas que tipo de transformação, em direção ao quê.

Aliás, Ícaro, quando você fala da questão do ciclo de vida e do paradoxo do navio de Teseu, me remete muito à concepção de Trajetória de Vida da escola do Rubinstein, que eu tenho tentado incorporar à minha prática clínica. Sem falar de que o paradoxo do navio de Teseu é um ótimo jeito de abordar a relação entre continuidade e ruptura, da relação entre estabilidade e transformação do Eu; ou mesmo para pensar a diferença entre um desenvolvimento da personalidade (enquanto um processo necessário e saudável de transformação) e um processo de ruptura patológica (uma perturbação da personalidade, na terminologia da patopsicologia) em que se perde essa unidade do Eu.

Até nesses casos, em que medida podemos trabalhar com o binômio desenvolvimento-desagregação? Será que essa relação se dá sempre em uma proporção idêntica de 50-50 (se ganha tanto quanto se perde). Enfim, vou encerrar por aqui porque já to começando a andar em círculos.


   
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IuryRavelly
(@iuryravelly)
New Member
Entrou: 2 meses atrás
Posts: 3
 

Só conjecturando... Sou iniciante nesse campo, mas só botando lenha na fogueira ou balde de água heheeheh Não seria possível pensar o desenvolvimento como esse movimento dialético parecido com a suprassunção? E aqui, não no sentido de progresso linear ou de algo simplesmente "melhor", mas como um processo que nega, conserva e supera, mas sem cair em julgamentos de positivo ou negativo.

Sei lá, fiquei pensando em uma concepção de desenvolvimento que considera e preserva os processos anteriores, bem como as mediações daquele que se desenvolveu. Isso abriria espaço para compreender trajetórias singulares, como nas discussões da defectologia em Vigotski, onde o "desvio" do caminho normativo não é falha, mas outra via de desenvolvimento, com seus próprios potenciais e desafios. E porque não aí haver nisso tudo os gérmens para processos vindouros e que podem ser "avanços" ou "recuos", mas está justamente para apresentar que há uma questão de movimento, não estática. Não seria algo linear, claro. E ai, precisaria ver como poderia se dar isso. Talvez tenha falado bobagem... Claro que podemos pensar, inclusive, sobre a ZDP nesse processo, a imitação, a relação com o outro, enfim. 


   
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