Esse tópico é referente a temáticas de discussão sobre aspectos institucionais da policia militar, saúde do trabalhador (policial militar) e assuntos relacionados... Apesar de estar no campo de Institucional e organizacional, a psicologia social do trabalho é bem-vinda.
Este tópico traz alguns questionamentos (na verdade, muitos) relacionados aos policiais militares e a forma como eles se percebem. A profissão está entre as que apresentam as maiores taxas de suicídio: são 21 casos para cada 100.000 habitantes (IPPES, 2024), enquanto a população geral do Brasil registra uma taxa de 7,78 para cada 100.000 habitantes (Ministério da Justiça e Segurança Pública, 2024). Ambos os dados referem-se ao ano de 2023.
Esses números levantam diversas questões sobre as causas desse fenômeno. Ao investigar como se dá a formação da Polícia Militar (de forma bastante resumida), observa-se uma distinção central entre o civil e o militar. O militar é aquele que é organizado e disciplinado; o civil, o oposto. Essa lógica é importante, pois estrutura uma visão de mundo baseada na oposição entre “nós” (a instituição) e “eles” (os problemáticos), numa dinâmica de guerra. No passado, os inimigos eram os comunistas; hoje, são as facções (segundo a visão da própria corporação).
Para o policial militar, ele não é um trabalhador, ele faz parte de uma tropa. E, se ele não é trabalhador, o que ele seria?
A importância deste tópico vai além de refletir sobre a saúde mental do policial militar ou a construção de sua subjetividade e identidade. Trata-se de elaborar um argumento que complemente a discussão sobre a letalidade policial, com o objetivo final de propor a extinção da Polícia Militar. Essa instituição brutaliza o próprio povo e mata (não apenas por meio da violência contra civis, mas também por meio do suicídio) o próprio trabalhador (o policial militar, especialmente os de baixa patente).
Um detalhe importante que vale ressaltar: a Polícia Militar é uma instituição de policiamento ostensivo, cujo objetivo é manter a ordem. Para que isso seja possível, o policial precisa aprender a executar ordens, respeitar a hierarquia e confiar sua vida a ela. Quem pensa é o oficial — e esse pensamento não é de questionamento, mas de planejamento. Planejamento de execução e apenas execução, cabendo apenas ao Estado pensar e decidir. E é nesse contexto que se constrói a subjetividade do policial.
De que forma seria possível uma pesquisa sobre a temática ou, sei lá, a realização de uma atividade sobre? Já foi feito algum tipo de revisão bibliográfica ou algo do gênero? A temática é bastante interessante, por sinal!
@iuryravelly, existe uma quantidade considerável de material disponível se fizermos um apanhado geral. Porém, quando buscamos por especificidades, não encontramos tantos materiais assim. O Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio (IPPES Brasil) tem diversos estudos sobre a temática no campo, embora a maioria seja das ciências sociais. Há uma galera pesquisando dentro da antropologia, inclusive uma tese muito interessante de psicologia social que utiliza metodologias de pesquisa da antropologia, como a etnografia.
O grande problema de pesquisar essa temática é o relacionamento necessário com a instituição, que é bastante fechada. O próprio IPPES tem dados e descreve a metodologia relacionada aos casos de suicídio divulgados, mas também ressalta o problema da subnotificação. Os autores que fizeram pesquisa de campo dentro da corporação eram vistos como "amigos" da instituição, uma terminologia comum para quem pesquisa o militarismo, já que ela é muito fechada e precisa manter controle sobre o que será produzido.
Se formos trabalhar com o marxismo de forma explícita, talvez seja mais difícil, porque o projeto precisa passar pelos comandos gerais e ser aprovado para que o pesquisador possa ter acesso. É importante lembrar que existem diferentes Polícias Militares, algumas são mais abertas à pesquisa, outras nem tanto. A PMMG, por exemplo, tem se mostrado mais receptiva, já que possui uma revista científica. Isso dá a entender, como alguns autores apontam, que certas instituições da Polícia Militar têm olhado para as críticas e buscado produzir conhecimento a partir delas.
Sobre trabalhos mais voltados ao marxismo relacionado à tropa e ao trabalho, os autores que abordaram essa temática geralmente são policiais militares e pessoas de esquerda dentro da própria instituição. O movimento Policiais Antifascismo, por exemplo, propõe disputar a ideologia dentro das polícias.
Enfim, o ponto que quero destacar aqui é que esse objeto de pesquisa é bastante complexo devido às especificidades institucionais e a algumas temáticas e críticas, que talvez só possam ser feitas de dentro para fora.